Nossa História
No princípio do século passado, com a finalidade de atender a demanda, principalmente de energia, gerada pela pródiga capital do país, o Rio de Janeiro, a concessionária de energia Light, então canadense, inicia a construção da represa de Ribeirão das Lajes. Obra de grande porte para a ocasião, mais tarde, a represa chegou a alimentar a maior usina hidrelétrica do país.
Mas, já naquela época, nem tudo era bem planejado, e, principalmente, as relações do homem com o meio ambiente eram bastante tênues, e grande o descaso com a natureza. Como era de se esperar, na ocasião da formação do lago, não houve nenhuma preocupação com o aproveitamento da rica vegetação de Mata Atlântica, repleta de madeiras de lei, nem em resguardar a exuberante fauna nativa que nela habitava. Povoados e vilarejos foram submersos sem maiores considerações. O distrito de Arrozal de São Sebastião teve a pior sorte: hoje jazendo a 40 metros de profundidade, ainda guarda restos mortais no cemitério local, pois não lhes foram dados tempo de serem removidos. E, como maior das consequências, o lago formado tornou-se um enorme foco de doenças. A febre amarela, o tifo, a malária e outras doenças dizimaram ou expulsaram milhares de pessoas da região, até que a situação fosse controlada.
No princípio dos anos 40, sob uma discutida proposta que alegava a necessidade de geração de maior quantidade de energia, a represa teve a cota de sua barragem aumentada em 12 metros. A área do lago aumentou e inundou mais 30 quilômetros quadrados, deixando, então, submersa em quase sua totalidade, a histórica cidade de São João Marcos, outrora importante centro produtor do estado do Rio de Janeiro, que chegou a ter 20 mil habitantes, além de outros vilarejos e habitações rurais. Felizmente, nessa ocasião alguns cuidados foram tomados e o desastre foi menor.
Anos mais tarde, o grande lago, então formado, recebe alevinos de tucunarés e tilápias, que iriam juntar-se à pobre ictiofauna pré-existente (piaus, carás, mandis, lambaris e traíras). O objetivo era a manutenção da qualidade da água do manancial, através da geração de um ambiente ecologicamente equilibrado. O sucesso deste povoamento, constatado poucos anos depois, criou na represa de Ribeirão das Lajes, um verdadeiro nicho ecológico e um paraíso para a pesca esportiva, porém, de acesso restrito.
Inicialmente, o acesso à represa, exclusivo aos funcionários da Light, se fazia unicamente pelo "paredão" da barragem, onde funcionava a administração da empresa. Entretanto, em pouco tempo surgiram acessos clandestinos, espalhados pelas margens do lago, e com eles os pescadores irregulares.
Durante um bom tempo a Light, a quem cabia cuidar e fiscalizar toda a área da represa, conseguiu que o frágil ecossistema se mantivesse preservado, mas, com o tempo, o número de pescadores clandestinos aumentou e a fiscalização tornou-se deficiente. Mais tarde, com o apoio de um pequeno contingente do extinto IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal), umas poucas intervenções foram efetuadas, mas ainda insuficientes para conter a pesca predatória que se intensificava com o tempo. Já no final dos anos 70 era possível constatar a diminuição da quantidade e do tamanho dos peixes.
A represa de Ribeirão das Lajes, com seus mais de 600 km de perímetro, é de uma beleza espetacular e guarda um enorme potencial para a prática da pesca esportiva. Águas cristalinas e sem nenhuma poluição. Entretanto, a infraestrutura para este aproveitamento é bastante incipiente. Na prática, o único acesso legal à represa é feito pelo Clube de Pesca de Piraí.
O clube, surgido em meados dos anos 70, às margens da represa, foi organizado por um grupo de pescadores amadores, entre eles diversos funcionários da Light, cujos associados tiveram o privilégio, concedido pela concessionária, de usufruir da piscosidade do manancial com exclusividade. De certa forma, este evento pretendia contribuir para a preservação ambiental da região, uma vez que os próprios associados tentavam disciplinar as atividades ligadas a pesca esportiva na represa. Mas diante de um espelho d'água com mais de 30.000.000 (trinta milhões) de metros quadrados e recursos escassos, o efeito não foi o esperado. A pesca predatória praticada por pescadores irregulares continuou.
Na tentativa de recuperar o equilíbrio ambiental parcialmente destruído, há alguns anos atrás, numa empreitada organizada pelo clube de pesca, foram colocados na represa, alevinos de pacu, tambaqui e carpa. Hoje, já desenvolvidos, esses peixes fazem parte da ictiofauna local, concorrendo com os tucunarés, tilápias e traíras, antes as únicas espécies representativas no local. A Light, por sua vez, introduziu jacundás e pirapitingas na represa, mas parece que com poucos resultados. Atualmente, o próprio clube procura desenvolver atividades visando a preservação do manancial e da sua ictiofauna, mas ainda de forma incipiente.
Curiosamente, nas águas da represa, apareceram algumas espécies não convidadas: pacupeva (ou peba), considerados por muitos como verdadeira praga, tamanha quantidade, grandes piauçus e até pintados. Mais raramente, corimbatás também já foram capturados. Provavelmente foram introduzidos por descuido juntamente com os alevinos de pacus e outros.
Pouco tempo atrás, para tentar proteger o grande manancial, a Light passou a contar com um pequeno contingente de guardas do corpo de bombeiros, que, embarcados, colaboravam, com voz de polícia, na proteção das matas e na fiscalização da pesca. Com isso, a coisa parece que melhorou um pouco.
Paradoxalmente, parece que a própria Light é causadora da eliminação de uma boa parte dos tucunarés na represa. Segundo observações de pescadores, na época de maior demanda por água, seja para consumo ou geração de energia, o nível das águas na represa abaixa. E, coincidentemente, é a mesma época em que os tucunarés estão na fase de reprodução: no verão. Esses peixes têm por hábito fazerem ninhos a pequenas profundidades, junto às margens, onde irão desovar. Com o abaixamento do nível das águas, os ninhos ficam expostos e lá se vão muitos tucunarés.
Legalmente para se ter acesso a uma pescaria na represa é necessário ser sócio do Clube de Pesca de Piraí, ou convidado. Como na maioria das pescarias em represas, é necessário estar embarcado, e o clube é o único local que possui a infraestrutura necessária.
A grande vedete das pescarias no local é o tucunaré, que eventualmente pode atingir mais de 3kg. Sua pesca é proibida de setembro a fevereiro, quando ocorre a reprodução da espécie, entretanto, é permitida a prática do "catch and release" (pescar e soltar). Mas existem outras espécies à disposição, como tilápias, traíras com até 4kg, pacus com 13kg, e, mais raramente, grandes piauçus, com até 6kg. O pescador sortudo pode ainda pescar um pintado ou um corimbatá. Atualmente, embora a pesca predatória continue dizimando parcialmente a ictiofauna local, ainda é possível se fazer uma pescaria com algum sucesso, procurando estruturas em lugares mais afastados, mais para o "fundo" da represa.
Um levantamento realizado pela UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), através do seu Dept. de Biologia, detectou a existência de vinte e seis espécies habitantes no reservatório. Dentre elas o tucunaré, tambaqui, pacu, pacu-prata, traíra, corimbatá, piau, tilapia, bocarra e a pirapitinga do sul, representam interesse para a pesca esportiva, embora nem todos sejam alvo de cobiça. Outras mais, como algumas espécies de lambari, mandi, bagre, cascudo e acará, além de consideradas boas iscas vivas, especialmente para as grandes traíras, também podem ser capturadas, desde que observadas as "manhas" necessárias.
LOCALIZAÇÃO: O Clube de Pesca de Piraí dista, aproximadamente, 100km do centro do Rio de Janeiro. A entrada para o clube fica localizada na estrada que vai para Passa Três/Rio Claro/Getulândia, a 5km da rodovia Pres. Dutra (Rio-São Paulo). Na Dutra, entra-se a direita na altura do km 232, no sentido São Paulo-Rio. Vale a pena fazer uma visita.